"A professora Eva é a melhor que podíamos ter"
Diz que é chata, que não gosta de trabalhar em confusão, quando marca uma data é para cumprir, que é impulsiva e refilona. Acima de tudo, Eva Henrique, professora do mês de maio da iniciativa DN, é emotiva e só por pouco conseguiu evitar as lágrimas ao falar dos alunos e do carinho que lhe dão. "O professor primário deixa uma marca nos alunos. Espero deixar uma marca nos meus. Acho que são todos meus amigos. Outro dia, uma aluna escreveu no quadro: "Gosto muito de ti e por ti chumbaria o ano. Mas por ti vou passar de ano". São muito meus amigos, dão-me carinhos, preocupam-se comigo. Muitas vezes chamam-me mãe, avó, temos uma relação muito positiva", conta.
Por norma, as aulas começam às 09.00, mas ontem o dia foi diferente. A Escola EB1 Venda do Pinheiro, Mafra, já está de férias e os 400 alunos que durante o ano letivo formaram 16 turmas dividem o tempo entre as atividades do ATL e a brincadeira em casa com os pais. Mas ontem o dia foi mesmo diferente. A maioria dos 26 alunos da professora Eva, a primeira que vai acompanhar do primeiro ao quarto ano, quis estar presente para a reportagem da iniciativa do DN Professor do Ano.
Emoção, excitação, alegria... reconhecimento que fazem ecoar na sala e nos corredores compridos e de pé direito alto. Do que mais gostam na professora? Tomás Luís, nove anos, é o mais rápido e rouba a primeira resposta aos coleguinhas. "Gosto de tudo e mais alguma coisa! Não há nada que não goste de fazer com a professora Eva. Estamos sempre a aprender coisas novas."
Bruna Ribeiro, da mesma idade, depressa tira a palavra a Tomás. Afinal, esperar é difícil sobretudo quando queremos dizer coisas importantes. "Sempre gostei de aprender com a professora Eva. É a melhor professora que podíamos ter. Tudo o que aprendemos com ela tem interesse", diz. Catarina Sebastião, uma das mais novas da sala com oito anos, acrescenta: "É amiga, simpática, explica várias vezes." E ainda "gasta toda a sua paciência em nós", afirma Gonçalo Faustino, também com nove anos.
Exibem com orgulho, partilhado pela professora Eva a mentora da ideia, as ilustrações do livro A Tristite do Pinheirinho, uma fábula que começou a ser pensada no ano passado. "Na avaliação externa e nas nossas reuniões vimos que os nossos alunos tinham alguma dificuldade na escrita. Era complicado para eles organizar ideias. Mas tenho alunos muito interessados e querem saber mais." Convidou mais seis colegas, duas de uma outra escola primária do agrupamento, e puseram mãos à obra. Decidiram o estilo de escrita e deixaram o resto na mão dos alunos.
"Todos começamos a história", explica Gonçalo. "A professora escrevia no quadro e nós passávamos para o caderno. Dizíamos o que vinha a seguir e íamos acrescentando", diz Tomás. No final, as sete professoras editaram o material e nasceu um livro - 600 exemplares pagos por todos os pais - que foi apresentado com pompa e circunstância.
"Fiz o livro porque gosto de projetos e queria ajudar os alunos a encontrar o gosto pela leitura, a escrita, o que é muito importante", refere a professora. E foi este entusiasmo que levou as colegas e pais de alguns alunos a candidatarem-na a professora do ano. "É um orgulho ver o dinamismo dela, ver a vontade com que os alunos fizeram a história, o empenho e preciosismo nas ilustrações. A professora Eva é voluntariosa, muito ativa e dinâmica, quando põe uma ideia na cabeça nunca desiste. É muito trabalhadora, tem boa relação com todas as colegas e é boa amiga", elogia a professora Joana, coordenadora do primeiro ciclo do agrupamento das escolas da Venda do Pinheiro.
São muitas horas de trabalho em conjunto que fez nascer uma amizade, que lhes permite terminar as frases uma da outra. "O ensino passa cada vez mais pela partilha e cria uma família", acrescenta a professora Joana. "A candidatura vem na sequência do projeto ter resultado desta forma. Depois de todo o empenhamento e trabalho, todas nós pensamos em conjunto em candidatá-la. Os pais também."
O entusiasmo já os faz pensar num segundo livro. "Ainda não temos ideias, mas temos vontade de escrever", avança Gonçalo. Mas Bruna já está a pensar nisso: "Escrevi no papel umas ideias. Se não servirem para o livro, porque ainda não sabemos o que vamos escrever, vão para o meu blogue."